Vitória - Crítica

Vitória é uma obra que nos chega com uma história poderosa e emocionante, que, em grande parte, deve seu impacto à impressionante atuação de Fernanda Montenegro. O filme, baseado em fatos reais, conta a trajetória de Nina, uma aposentada que, diante da corrupção policial e do tráfico de drogas no Rio de Janeiro, decide registrar com sua câmera o que muitos tentam ignorar. Embora o longa se movimente entre o drama e o suspense, é a interpretação de Montenegro que eleva a narrativa, trazendo uma profundidade rara à trama.

A grande estrela de Vitória é, sem dúvida, Fernanda Montenegro. Aos 95 anos, a atriz transmite uma carga emocional imensa, criando uma personagem marcada por sua força e resiliência. A maneira como ela comunica a dor e o conflito interno de Nina apenas com os olhos é algo impressionante. Em uma das cenas mais marcantes do filme, onde Nina recebe uma notícia devastadora, Montenegro não precisa de palavras para transmitir a transformação que sua personagem sofre. Ela faz com que o público sinta cada nuance de sua dor, sua luta e sua determinação. É impossível não ser tocado por essa atuação magistral.

Embora a trama explore principalmente os sentimentos da protagonista, a construção de Nina é sólida e genuína. Em vez de apresentá-la apenas como uma vítima da situação, o filme a retrata como uma mulher de ação, que não se deixa intimidar pelas dificuldades e que, com uma coragem surpreendente, decide enfrentar sozinha o sistema corrupto à sua volta. A força dessa personagem se reflete também na construção de alguns personagens secundários, como o menino Marcinho (interpretado por Thawan Lucas), a vizinha Bibiana (Linn da Quebrada) e o jornalista Fábio (Alan Rocha), cujas interações com Nina trazem momentos de conexão emocional em meio ao caos. Linn da Quebrada e Thawan Lucas têm atuações comoventes que equilibram o tom de Vitória, trazendo uma leveza e humanidade necessárias para contrastar com o peso do drama central. Alan Rocha também brilha como o jornalista que auxilia Nina, oferecendo um apoio crucial à sua luta.

A direção de Andrucha Waddington, embora focada principalmente em Fernanda Montenegro, acerta ao dar espaço para o talento da atriz brilhar. A câmera muitas vezes se aproxima de Montenegro de maneira quase reverencial, capturando cada olhar, cada gesto. Esse foco no rosto da atriz não só fortalece a conexão com a personagem, mas também permite que o público sinta a angustia e a obstinação de Nina em tempo real. Embora o filme se arrisque mais no terreno do drama do que no suspense, essa escolha de direção acaba funcionando, já que o coração da história está no sofrimento e na força interna de Nina.

Vitória é um filme que emociona e instiga, principalmente pela maneira como nos apresenta uma mulher que desafia o sistema, que, mesmo nas adversidades, se recusa a ser silenciada. O filme se destaca pela interpretação impecável de Fernanda Montenegro e suas reflexões sobre justiça, resistência e a luta pelo certo. Vitória é uma produção do cinema nacional que vale a pena ser vista, principalmente pela força emocional que transmite e pela magistral performance de sua protagonista.