Senna - Crítica
9 de dezembro de 2024
A minissérie Senna, lançada pela Netflix, é uma produção ambiciosa que se propõe a revisitar a trajetória de Ayrton Senna, um dos maiores ícones brasileiros, e apresentar sua história tanto para os fãs nostálgicos quanto para uma nova geração. Com seis episódios, a série acerta em aspectos técnicos e emocionais, mas tropeça em escolhas narrativas que limitam o impacto de sua narrativa.
Os pontos altos da produção estão, sem dúvida, no cuidado técnico. As cenas de corrida, recriadas com um misto de efeitos práticos e visuais, são um espetáculo à parte. A reconstrução detalhada de carros, circuitos e momentos históricos impressiona, transportando o público diretamente para o universo vibrante e competitivo da Fórmula 1. O uso de tecnologias avançadas, como a simulação de movimentos dos carros e recriações digitais de autódromos, eleva o padrão das produções nacionais e coloca Senna no mesmo nível de blockbusters internacionais.
A atuação de Gabriel Leone como Ayrton é outro ponto forte. Ele entrega uma performance equilibrada, humanizando o piloto sem cair em caricaturas, e conecta o homem real ao mito que marcou gerações. O elenco coadjuvante também brilha, com destaque para Matt Mella como Alain Prost, cuja rivalidade com Senna é tratada de maneira respeitosa e complexa, sem apelar para antagonismos rasos.

No entanto, a série sofre com a limitação de apenas seis episódios para cobrir toda a vida de Senna, desde a infância no kart até sua trágica morte no GP de San Marino. Essa abordagem torna a narrativa fragmentada, com partes importantes de sua história, como os desafios iniciais na Fórmula 1 e a relação com Adriane Galisteu, sendo abordadas superficialmente ou quase ignoradas. É notável o peso da influência da família Senna na produção, o que, embora compreensível, restringe camadas mais críticas e profundas do retrato do piloto.
Outro desafio é o ritmo inconsistente causado pelos frequentes saltos temporais, que forçam o uso de diálogos expositivos para conectar os eventos. A personagem fictícia Laura, uma repórter interpretada por Kaya Scodelario, exemplifica essa falha, funcionando mais como um dispositivo narrativo do que uma figura orgânica dentro da trama.
Apesar dessas questões, Senna consegue capturar a emoção que definiu a relação do piloto com o público. As recriações das corridas e a trilha sonora nostálgica, com a icônica música da vitória, resgatam o espírito de união que os domingos de Fórmula 1 despertavam no Brasil. A série mistura elementos do pop brasileiro com uma pegada hollywoodiana, criando uma obra que celebra o legado de Ayrton enquanto aponta os desafios de mitificar uma figura tão complexa.
No saldo final, Senna é uma superprodução que emociona, mas que poderia ter sido mais ambiciosa na forma como narra a vida de um herói nacional. Mesmo com seus defeitos, é um passo significativo para o audiovisual brasileiro e uma homenagem vibrante a um homem que fez história dentro e fora das pistas.
Avaliação: 4,5 / 5 ⭐