Coringa: Delírio a Dois - Crítica
5 de outubro de 2024
"Coringa: Delírio a Dois" é uma sequência corajosa e inovadora que segue os eventos do filme de 2019. Mais uma vez, Joaquin Phoenix assume o papel de Arthur Fleck, entregando uma performance poderosa que explora a profundidade psicológica do personagem. Dirigido por Todd Phillips, o filme se diferencia ao trazer uma abordagem ousada ao universo de Gotham, misturando elementos de musical com drama psicológico.
Desde o começo, fica claro que o longa não pretende seguir o caminho tradicional dos filmes de super-heróis. Ao invés disso, ele mergulha na mente conturbada de Arthur, enquanto este, agora preso no hospital psiquiátrico de Arkham, desenvolve uma relação obsessiva e perigosa com Harleen "Lee" Quinzel, interpretada por Lady Gaga. A interação entre eles é repleta de tensões emocionais, e a música surge como uma fuga mental em meio à turbulência psicológica de ambos.
A trilha sonora, que surge como um reflexo dos delírios de Fleck, é um dos pontos interessantes do filme. Ela ajuda a criar uma atmosfera que mistura o sombrio e o surreal, transformando cenas de tensão em momentos quase poéticos. As cenas musicais, embora desconfortáveis em alguns momentos, são intencionalmente cruas, retratando a dura realidade que Arthur e Lee enfrentam. Para aqueles que estão abertos a essa jornada diferente e desafiadora, o filme oferece uma experiência profunda e gratificante.
Visualmente, o filme é impressionante, com uma fotografia que ressalta o caos e a melancolia, refletindo o estado emocional dos personagens. Joaquin Phoenix mais uma vez brilha no papel, alternando entre momentos de vulnerabilidade e explosões de violência com maestria. Ele consegue retratar a complexidade de Arthur Fleck, um homem à beira da insanidade, e do Coringa, um símbolo do caos. Lady Gaga também se destaca como Lee, trazendo uma personagem misteriosa, embora sua atuação não ofusque a de Phoenix. No entanto, seu talento musical é utilizado de maneira criativa, especialmente nas cenas mais alucinantes.
Este não é um filme para quem busca a típica ação ou um Coringa tradicional e sanguinário. Ao contrário, "Delírio a Dois" convida o espectador a se aprofundar nos transtornos mentais dos personagens. O diretor Todd Phillips consegue equilibrar momentos de introspecção com cenas dramáticas e violentas, questionando o impacto dessas escolhas na vida de Arthur.
O desfecho, contudo, abre espaço para interpretações e futuras possibilidades, deixando a curiosidade para uma possível continuação. "Coringa: Delírio a Dois" não é um filme fácil de agradar ao grande público. Sua proposta artística e seu foco em questões profundas como saúde mental, solidão e identidade pedem um olhar mais atento e sensível.
É uma obra introspectiva, sombria e artística que vai além do simples entretenimento. Ele desafia expectativas e nos convida a explorar o lado mais obscuro e complexo da mente humana, sendo um filme que vale a pena assistir com a mente aberta e disposta a mergulhar nas camadas de um universo perturbador e fascinante.