A Substância - Crítica
21 de fevereiro de 2025
A Substância é um filme que está gerando discussões acaloradas, entre elogios e críticas severas. Seu estilo visual impressionante e os efeitos perturbadores são destacados, com a trama envolvendo a famosa apresentadora de TV Elizabeth Sparkle (interpretada por Demi Moore), que, ao se ver descartada pela indústria devido à sua idade, recorre a uma substância misteriosa para recuperar sua juventude e beleza. Ao invés de uma simples busca por autoaperfeiçoamento, a obra mergulha em um território perturbador, refletindo a obsessão da sociedade por juventude, beleza e perfeição.
O horror corporal é um dos pilares do filme, sendo levado ao extremo de maneira grotesca e visceral, desafiando o espectador a continuar assistindo, seja com repulsa ou fascínio. Como comentou Anna Smith, da Rolling Stone, o filme "faz você pensar, falar e se contorcer", levando o público a refletir sobre as consequências extremas de uma busca incessante por um ideal estético. A Substância transita entre sátira, body horror e comédia, oferecendo um espetáculo visual e sonoro com cenas de intenso desconforto, que fazem o filme parecer, em muitos momentos, uma experiência sensorial quase insuportável.

Por outro lado, a crítica ao culto da beleza e a exploração da pressão estética sobre o corpo feminino são evidentes, mas a execução dessas críticas acaba gerando divisões. O filme tem muito estilo mas peca pela falta de substância. A troca de corpo entre Elizabeth e sua versão jovem, Sue, levanta questões filosóficas sobre o que significa ser mulher em um mundo obcecado pela perfeição, mas a abordagem do filme por vezes parece se perder na busca por choque.
A personagem de Demi Moore se destaca com uma atuação visceral, que traz à tona a dor de uma mulher que se vê irreconhecível, suas inseguranças e o confronto com um reflexo que, ao invés de revitalizar, acentua a tragédia de uma identidade que não consegue se sustentar sem a aprovação externa. Enquanto isso, Margaret Qualley brilha como a versão mais jovem e idealizada de Elizabeth, mas rapidamente se torna uma vítima do mesmo sistema que ela supostamente “melhorou”, refletindo a pressão de manter uma imagem perfeita, muitas vezes ao custo de sua própria humanidade.

Além disso, a relação com as ciências comportamentais é um ponto que merece destaque. O filme também pode ser lido como uma metáfora para o consumismo desenfreado e a manipulação de desejos, com a protagonista sendo seduzida por um produto viciante que reflete a sociedade atual: marcada pelo consumo impulsivo e pela busca incessante por status. Essa ideia também ressoa nas discussões sobre comportamento de manada e o ciclo vicioso de ações guiadas por desejos momentâneos e externos, como as redes sociais e as pressões estéticas.
No entanto, o filme enfrenta desafios, como seu excesso de violência gráfica, que muitas vezes desvia a atenção da crítica central. Embora o uso do gore e do body horror seja uma ferramenta poderosa para enfatizar a alienação e o sofrimento das protagonistas, essa abordagem excessiva acaba tirando o foco do que poderia ser um debate mais profundo e instigante sobre a solidão e a opressão das mulheres perante os padrões estéticos impostos pela sociedade.
A Substância poderia ser um filme de grande impacto se tivesse equilibrado melhor sua intensidade visual e os questionamentos filosóficos centrais. Embora seja uma crítica válida à sociedade contemporânea, seu estilo irreverente e exagerado em certos momentos acaba por comprometer a profundidade da mensagem. No fim das contas, o filme brilha em sua loucura, mas poderia ter sido mais sutil e menos obcecado pelo choque, pois sua essência e tema mereciam um tratamento mais sofisticado e menos excessivo.
Avaliação: 2,5 / 5 ⭐